O presente artigo propõe uma análise aprofundada da medicina tradicional indígena como expressão legítima e vital dos sistemas de cuidado em comunidades originárias, inserindo-a no debate contemporâneo sobre saúde coletiva e políticas públicas. A partir de uma revisão integrativa da literatura, buscou-se compreender como os saberes tradicionais enraizados em cosmovisões próprias e transmitidos oralmente por pajés, curandeiros e líderes espirituais, que estruturam práticas terapêuticas que vão além da dimensão biomédica da cura. Rituais de purificação, uso de plantas medicinais, cantos sagrados, rezas e dietas ritualísticas compõem um arcabouço de saberes que articulam corpo, espírito, território e ancestralidade como partes inseparáveis do processo de cuidado. Mesmo diante da expansão da biomedicina, da secularização e das transformações socioculturais impostas pelo contato com a sociedade envolvente, essas práticas permanecem ativas e fundamentais para a manutenção da saúde, do equilíbrio comunitário e da resistência cultural. A medicina indígena, nesse sentido, não apenas promove a cura de enfermidades, mas também reafirma identidades étnicas, fortalece laços territoriais e contribui para a autonomia dos povos indígenas em relação à sua própria saúde. Os resultados apontam para a necessidade urgente de reconhecimento institucional e valorização dessas práticas, que historicamente foram marginalizadas, como parte integrante de um sistema de saúde verdadeiramente plural e intercultural. Conclui-se que incorporar os saberes indígenas ao planejamento e à execução de políticas públicas de saúde é essencial para a promoção da equidade, do respeito à diversidade cultural e da justiça social no âmbito do SUS.